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*Otorrinolaringologista. Doutor em Neurologia pela Universidade Federal Fluminense
A otoneurologia estuda e avalia os distúrbios do
equilíbrio corporal (tonturas, vertigens, desequilíbrios) e da audição.
Para a manutenção correta da postura e do equilíbrio corporal
temos a participação de vários sistemas: labirinto (equilíbrio
estático e dinâmico), sistema visual (informação de
localização no espaço), sistema proprioceptivo - músculos,
tendões, articulações - (manutenção da postura
e realizações dos movimentos), que sob o controle do cerebelo, enviam
estas informações ao sistema nervoso central garantindo um equilíbrio
estático e dinâmico correto.
Conhecendo melhor as vertigens, tonturas e desequilíbrios
Pacientes com vertigens, tonturas e/ou desequilíbrio corporal frequentemente procuram assistência médica, muitas vezes, com dúvidas em relação à especialidade para avaliar o seu problema. O otorrinolaringologista está habilitado a fazê-lo e realizar a bateria de exames quando necessário, encaminhando o tratamento adequado que pode ser multidisciplinar, na dependência da(s) causa(s).
Pode apresentar-se como instabilidade corporal, quedas, flutuação, desvio ou pulsão corporal ao caminhar, sensação de afundamento ou desmaio, cabeça oca. Pode ser de origem vestibular ou do sistema nervoso central.
Sensação ilusória de movimento corporal em relação ao ambiente ou rotação dos objetos a sua volta. É o tipo mais freqüente de tontura. Sua origem é na maioria das vezes no órgão vestibular (vestíbulo e canais semicirculares).
Instabilidade corporal, com dificuldade de manter-se de pé sem auxilio (acompanhante, andador) e frequentemente alteração na marcha (caminhar). Origem no sistema nervoso central ou neuropatias periféricas.
1 - Vestíbulo. 2 - Cadeia ossicular (martelo - bigoma - estribo)
3 - Canal da tuba auditiva. 4 - Cócleo. 5 - Canal semicircular.
6 - Nervo vestibular. 7 - Nervo facial. 8 - nervo coclear.
Manifestações clínicas das vertigens de origem labiríntica
As labirintopatias (afecções aparelho vestibular periférico), comumente denominadas de "labirintites", ocorrem em as todas as faixas etárias, porém com quadros clínicos diferentes.
Crise
vertiginosa aguda - a denominada "labirintite aguda" apresenta-se
de forma súbita com quadro clínico exuberante: vertigem (caráter
rotatório), desequilíbrio à marcha, manifestações
neurovegetativas (taquicardia, sudorese, palidez, náuseas, vômitos,
diarréia), alteração da pressão arterial e do ritmo
cardíaco, sensação de desmaio, sintomas auditivos (plenitude
auricular, hipoacusia, zumbidos, diplacusia, intolerância a ruídos).
Em alguns casos pode acompanhar-se de cefaléia. Este quadro pode permanecer
por minutos, horas e mais raramente por dias. Nesta fase a movimentação
cefálica desencadeia a crise. O exemplo típico e a doença
de Ménière.
Após a crise vertiginosa o paciente pode
permanecer com sensação de desequilíbrio, flutuação,
insegurança para caminhar, zumbidos, hipoacusia. Este quadro pode evoluir
para resolução total ou arrastar-se por meses, sem terapêutica
eficaz.
Tontura crônica
- os casos crônicos podem evoluir com tontura (sensação de
desequilíbrio permanente), por lesões do aparelho vestibular ou
por patologias que impossibilitam a compensação vestibular (distúrbios
metabólicos não compensados, injuria vascular e doenças desmielinizantes
(auto-imunes) do sistema nervoso central, uso de medicamentos ototóxicos
que dificultam a compensação vestibular), ou ocorrer de forma intermitente
com episódios de tontura ou sensação de desmaio, como na
Vertigem Posicional Paroxística Benigna. A tontura crônica frequentemente
está associada à ansiedade, depressão, síndrome do
pânico e a pacientes que fazem uso de vários medicamentos em longo
prazo.
PRINCIPAIS QUADROS CLÍNICOS PERIFÉRICOS
1
- VERTIGEM POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA
2 - MÉNIÈRE
3
- VERTIGEM PAROXÍSTICA BENIGNA DA INFÂNCIA
4 - VERTIGEM E/OU SURDEZ
SÚBITA
5 - NEURITE VESTIBULAR
As vertigens periféricas agudas unilaterais apresentam uma gama de sinais e sintomas que identificam a afecção:
- crise vertiginosa (caráter rotatório) de início súbito.
- manifestações neurovegetativas (palidez, sudorese fria, náuseas, vômitos, taquicardia).
- alterações auditivas (hipoacusia, zumbidos, diplacusia, intolerância a ruídos, plenitude aural).
- movimentação cefálica aumenta o desconforto (piora ou desencadeia a vertigem).
- duração de segundos (Vertigem posicional paroxística benigna), horas e até dias (doença de Ménière).
- inclinação corporal e/ou desvio da marcha para o lado lesado (lado oposto a componente rápida do nistagmo).
Características do nistagmo (Ny) na fase aguda
- Ny com fase rápida (compensatória) em direção oposta ao lado da lesão.
- Ny diminui com a fixação visual (efeito inibidor).
- Ny horizontal, independente da direção do olhar, podendo variar na intensidade.
- Ny aumenta com olhar na direção da componente rápida (nistagmo semi-espontâneo).
- Ny pode ser acentuado com a movimentação cefálica.
- Ny tipicamente horizonto-rotatório.
- Ny não altera a direção com a mudança na direção do olhar.
- Ny pode fatigar por repetidas manobras (solicitado por movimentação cefálica).
- Ny com latência de dois a 20 segundos.
- Ny com duração em geral menor que 30 segundos.
A severidade dos sintomas nem sempre é um bom indicador da gravidade da afecção. Uma das vertigens mais desconfortante e incapacitante é a neurite vestibular periférica aguda.
Apresentam sinais inequívocos de comprometimento das vias cócleo-vestibulares centrais relacionadas a outras estruturas (nervos cranianos, tronco encefálico), ou outras patologias (isquemias, malformações vasculares, doença auto-imunes - doenças desmielinizantes, tumores e infecções do sistema nervoso central.
Sinais e sintomas que levam a identificação de vertigem central:
- tonturas de caráter contínuo e/ou progressivo.
- predomina o desequilíbrio (instabilidade).
- ausência de manifestações neurovegetativas.
- raramente sintomas auditivos.
- comprometimento de outros nervos cranianos.
Características
do nistagmo (Ny)
- Ny unidirecional ou bidirecional.
- Ny espontâneo vertical/horizontal.
- Ny não diminui com a fixação do olhar (ausência do efeito inibidor da fixação isual).
- Ny não aumenta com a movimentação cefálica.
- Ny pode mudar a direção com a mudança do olhar.
- Dissociação nistagmo-vertiginosa sugerindo comprometimento central.Exemplos de nistagmos: